23.12.10

a volta


quando pude retornar à minha cidade natal, após a queda do muro, 22 anos depois de ter saído, quis procurar os lugares da minha infância, onde tinha vivido com minha mãe, que morrera tão jovem. o lugarejo estava muito mudado. reconheci as ruas, claro, e alguns prédios que permaneciam iguais. quis rever a paróquia do local, onde todos os domingos minha mãe me levava à missa. meu irmão tentou me preparar, avisando que a igrejinha não era mais a mesma, que havia sido reformada. não me importei, quis entrar mesmo assim. de fato ela estava muito mudada. mas os bancos de madeira ainda eram os mesmos da minha infância. e naquela madeira estavam impressas a mão da minha mãe sobre meu ombro na entrada da igreja, a sua voz suave durante os cantos litúrgicos e suas lágrimas durante as orações pelos familiares. revivi tudo em segundos. e a minha dor, a minha dor, de ter perdido minha mãe tão jovem, de ter deixado aquele lugar em busca de algo que nunca encontrei, toda aquela dor eu esmurrei ali mesmo, de joelhos, junto com minhas lágrimas, no chão de pedras da igreja.

2 comentários:

  1. Sempre me toca muito.
    Beijos
    Ione

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  2. Obrigada, Ione! Esta temática acaba sendo recorrente. Não por acaso... Beijos, Fabiana.

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