9.12.13

nem a própria dor

quando éramos pequenos, meu pai fez um jogo de xadrez gigante, quase como aqueles que se veem nas praças em alguns países da europa. agora, que já somos crescidos, ele nos deixou um jogo de xadrez feito de tubinhos de analgésico.

quando entramos em seu apartamento, após a sua morte, havia uma bandeja em cima da mesa. dentro da bandeja, de um lado, muitos tubinhos de analgésico vazios, cola, tesoura, outros tipos de plástico, tinta. um espaço livre e, do outro lado, peças de um jogo de xadrez feitas com os mesmos tubinhos trabalhados: reis, rainhas, torres, bispos, cavalos, peões. criatividade era o seu forte. e ele sentia muitas dores nos últimos tempos. 

o jogo não chegou a ficar completo. obra inacabada, como a vida sempre é. mas meu pai, mesmo depois de morto, continuou a me ensinar que não se desperdiça nada. nem a própria dor.

12.10.13

sul lungomare del mondo del mondo

se eu fosse Lorenzo Jovanotti hoje teria escrito


Disorientato
Da oggi chiudo i conti col passato
I passi fatti e quelli che farò
Da oggi ogni giorno nascerò da zero
Non mi han convinto i pessimisti no
Non mi han convinto i disonesti no
Non son persuaso dai persuasori no
Io seguo il ritmo dei lampioni sul lungomare del mondo
E i bar che passan le canzoni
Sono tranquillo la pioggia poi fa posto al tempo bello
Così è da sempre e sempre resterà
E tutto cambia e tutto cambierà ancora
Non è finito il mio stupore oh?
Cosa s'impara dal dolore non so
Ma credo ancora
Che tutto un senso ha
E seguo il ritmo dei lampioni sul lungomare del mondo
del mondo

21.9.13

escolha a alternativa correta

entre o desejo e o decoro
entre a língua e a linguagem
entre a torrente e a represa
entre a audácia e o recato

16.9.13

natureza morta



1
seu vaso
minhas flores
seu copo
minha água
sua toalha
minha maçã
seu dicionário
meu trabalho
sua mesa
minhas vitaminas
seus óculos
meu estojo

2
seu vaso
seu copo
sua toalha
sua mesa
seus óculos
seu dicionário

3
minhas flores
minha água
minha maçã
minhas vitaminas
meu estojo
meu trabalho

18.2.13

Waly Salomão: Mal Secreto

Não choro,
Meu segredo é que sou rapaz esforçado,
Fico parado, calado, quieto,
Não corro, não choro, não converso,
Massacro meu medo,
Mascaro minha dor,
Já sei sofrer.
Não preciso de gente que me oriente,
Se você me pergunta
Como vai?
Respondo sempre igual,
Tudo legal,
Mas quando você vai embora,
Movo meu rosto do espelho,
Minha alma chora.
Vejo o rio de janeiro
Comovo, não salvo, não mudo
Meu sujo olho vermelho,
Não fico parado, não fico calado, não fico quieto,
Choro, corro, converso,
E tudo mais jogo num verso
Intitulado
Mal secreto.