quando éramos pequenos, meu pai fez um jogo de
xadrez gigante, quase como aqueles que se veem nas praças em alguns
países da europa. agora, que já somos crescidos, ele nos deixou um jogo
de xadrez feito de tubinhos de analgésico.
quando entramos em seu
apartamento, após a sua morte, havia uma bandeja em cima da mesa. dentro
da bandeja, de um lado, muitos tubinhos de analgésico vazios, cola,
tesoura, outros tipos de plástico, tinta. um espaço livre e, do outro
lado, peças de um jogo de xadrez feitas com os mesmos tubinhos
trabalhados: reis, rainhas, torres, bispos, cavalos, peões. criatividade era o
seu forte. e ele sentia muitas dores nos últimos tempos.
o jogo não
chegou a ficar completo. obra inacabada, como a vida sempre é. mas meu
pai, mesmo depois de morto, continuou a me ensinar que não se desperdiça
nada. nem a própria dor.