9.12.13

nem a própria dor

quando éramos pequenos, meu pai fez um jogo de xadrez gigante, quase como aqueles que se veem nas praças em alguns países da europa. agora, que já somos crescidos, ele nos deixou um jogo de xadrez feito de tubinhos de analgésico.

quando entramos em seu apartamento, após a sua morte, havia uma bandeja em cima da mesa. dentro da bandeja, de um lado, muitos tubinhos de analgésico vazios, cola, tesoura, outros tipos de plástico, tinta. um espaço livre e, do outro lado, peças de um jogo de xadrez feitas com os mesmos tubinhos trabalhados: reis, rainhas, torres, bispos, cavalos, peões. criatividade era o seu forte. e ele sentia muitas dores nos últimos tempos. 

o jogo não chegou a ficar completo. obra inacabada, como a vida sempre é. mas meu pai, mesmo depois de morto, continuou a me ensinar que não se desperdiça nada. nem a própria dor.