20.8.10

Aprendendo Alemão

Muitas vezes tive a impressão de que se imagina a Europa como uma São Paulo toda feita de Avenidas Paulistas. Eu mesma fiquei impressionada com a infra-estrutura das cidades, quando cheguei. Sem falar no aspecto cultural. Da margem esquerda do Atlântico, é comum que se veja a Europa como o berço da cultura ocidental, do humanismo, do iluminismo, etc. (Claro, também foi palco de duas horrendas Guerras Mundiais, não podemos esquecer). Mas, enfim. A Europa não é a Avenida Paulista, e eu fui parar em Germersheim!

Alguém - não ligado a Tradução - já ouviu falar? Provavelmente não. Pois essa cidadezinha de 20.000 habitantes, sem nenhum teatro, quase nenhum cinema (está bem, havia um galpão que passava Rambo II ou algo assim), à beira do rio Reno, abriga um dos maiores centros de formação de tradutores e intérpretes do mundo (qualquer hora destas eu explico melhor esse ranking).

Pois bem, rio Reno a leste e um raio de 20 km de plantações em todos os outros pontos cardeais resulta num lugarzinho aconchegante, ideal para... estudar, estudar e estudar. Tudo o que se precisava era de uma cama, uma mesa de trabalho e uma bicicleta, principal meio de transporte para que se chegasse mais rapidamente ao destino desejado, que ficava no máximo quatro ruas para cá ou quatro ruas para lá de distância de onde quer que você estivesse. (Há um certo exagero nisso, mas vale o recurso para deixar o texto um pouco mais interessante.)

A bicicleta me levava para os poucos lugares possíveis: faculdade, banco, supermercado, para a Mensa-Disco (a discoteca que acontecia todas as quintas-feiras na cantina da faculdade) e, quando era preciso, também para o médico. Certa vez, bem no início de meus estudos, precisei ir ao ginecologista. De bicicleta, é claro. Boa tarde, pois não? Depois de eu explicar o que estava fazendo ali ele me perguntou: Você teve trânsito?

Em átimos de segundo, conferi meus arquivos mentais em busca de compreensão e percebi que não havia entendido a pergunta. Continuei em silêncio, tentando encontrar ao menos um contexto que fizesse com que aquela pergunta ali, naquela situação, tivesse sentido. Finalmente concluí: sim, ir ao ginecologista é sempre um pouco constrangedor. Já sei: ele está puxando assunto para descontrair. Mas falando de trânsito? Nesta cidadezinha? Eu vim de bicicleta, como poderia ter pego trânsito?

Diante do meu silêncio, que acabou ficando longo demais, ele completou: Trânsito... assim, com o seu namorado...
- Aah!
Pronto. Aprendi na hora o outro significado da palavra “trânsito“ em alemão. Só que este fato, que se passou há quase 20 anos, acabou virando uma anedota sobre erros engraçados de principiantes no estudo do alemão. Talvez você já a tenha até ouvido em alguma rodinha de amigos. Eu já ouvi. Um dia vi alguém contando que a pessoa teria de fato respondido: “Não, o trânsito estava tranquilo, eu vim de bicicleta!“ A piada ficaria melhor, sem dúvida. Mas essa história aconteceu comigo e eu juro: eu nao disse! Apenas pensei!

Se um dia vocês ouvirem a versão errada da história por aí, defendam-me, por favor. Mesmo que seja para perderem o amigo e a piada.


Fabiana Macchi

Nenhum comentário:

Postar um comentário