Sim, é verdade, escrevi até a exaustão. Fiquei carbonizado por dentro, como um velho forno. Esforcei-me para continuar a escrever, apesar desses alertas. Mas de meus esforços saíam apenas banalidades. Para mim foi sempre assim: só deu certo o que de mim pôde surgir calmamente e o que eu, de alguma forma, havia vivido. Naquela época, fiz algumas tentativas diletantes de abreviar a minha vida. Mas não sabia sequer preparar um laço. Por fim, a situação chegou a tal ponto que minha irmã, Lisa, trouxe-me para o sanatório Waldau. Ainda em frente ao portão principal, perguntei-lhe: ‘Você acha que estamos fazendo a coisa certa?’. Seu silêncio disse-me tudo. O que me restava fazer, senão entrar?
(Trecho do diário de R. Walser, 1939)
Tradução Fabiana Macchi
Nota biográfica
Robert Walser nasceu em Biel, na Suíça, em 1878. Tentou ser ator, foi escriturário, funcionário de biblioteca, capataz. Começou a publicar artigos em jornais aos 20 anos, seguiram-se livros de ensaios, vários romances, volumes de poemas, de contos, comédias, mini-histórias. Walser viveu em Berna, Berlim e Leipzig, escreveu para vários jornais internacionais, publicou intensamente até os 47 anos de idade, foi muito admirado pelos autores da época, sendo Franz Kafka o mais célebre entre eles.
A partir da segunda metade dos anos 20, sua saúde começa a sofrer as conseqüências da intensidade do seu trabalho. Walser passa a ouvir vozes e, em 1929, acaba sendo internado em um manicômio em Berna, capital da Suíça, onde viveu os próximos 27 anos de sua vida.
Cara Fabiana,
ResponderExcluirMeus parabéns pelo blog. Muito interessante os temas escolhidos. Eu também tenho um blog, mas a temática é bastante diferente. Um grande abraco....Alexander (swissinfo)