16.7.10

"Do meu país, só conheço o cheiro"

Representante de uma tendência irreverente da literatura alemã surgida nos anos 90, a romena Aglaja Veteranyi (1962-2002) iniciou sua carreira publicando seus prosa-poemas em antologias dos "novíssimos" na década passada – última do século 20. Como muitos autores deste tipo de literatura, nascidos entre os anos 50 e 70, Aglaja tem uma biografia bastante incomum. Nasceu em Bucareste em uma família de artistas de circo que fugia da ditadura e, por isso, passou a infância viajando pelo mundo com o circo. O que poderia parecer leve e lúdico revela-se cruel e implacável. O desterro e o desamparo marcariam para sempre a sua personalidade. A partir dos 17 anos, Aglaja passa a viver na Suíça, onde adquire a sua "língua-madrasta". Forma-se em teatro, trabalha como atriz, escreve peças, funda, em 1993, um grupo de litaratura experimental e, em 1996, um grupo de teatro. Em 1999, lança o seu primeiro romance (Warum das Kind in der Polenta kocht, - Por que a criança cozinha na polenta, DBA, 2004), pelo qual recebe vários prêmios e conquista um público mais amplo. Sua linguagem, aparentemente ingênua, contrasta com um olhar severo, que procura revelar o absurdo e as contradições do cotidiano. Aglaja citava Beckett e Ionesco como seus mentores. Em 3 de fevereiro último (2002), como uma de suas personagens, Aglaja "perde a memória e esquece-se de acordar".



Fabiana Macchi
(publicado na Sibila - Revista de Poesia e Cultura N. 2, 2002)

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